sexta-feira, 25 de setembro de 2009

pomapomarola | Sexta de discos / Belchior "Alucinação" 1976

Como todos sabem (gosto de imaginar que alguém lê esse blog, por isso trato os leitores no plural hehe) sexta-feira é dia de comentar sobre algum disco antigo que após passar por uma criteriosa seleção é considerado clássico: meu gosto pessoal. Se eu gostar, eu considero clássico e vou postar aqui. Azar o de quem não gostar hehehe. E na verdade nem tinha como ninguém saber disso, já que acabei de decidir hehe. Bem, mas vamos à obra em questão (apesar da engenharia me perseguir, a obra em questão aqui é de outro tipo =] )



















Pra começar, um cearense que deu o que falar recentemente quando deu uma sumida e, sei lá, quem sabe colaborar singelamente para que ele saia do esquecimento, o grande Belchior. Por um bom tempo achei que esse fosse o primeiro disco do Belch, mas descobri que Alucinação (1976) é na verdade o segundo (o primeirão foi A palo seco de 1974). Alucinação é daqueles discos com um punhado de sucessos. Logo de cara vem provavelmente a música que mais remete ao cantor/compositor: "Apenas um Rapaz Latino Americano". Um rapaz que mesmo sem parentes importantes, vindo do interior nos põe a pensar em como tudo é divino e maravilhoso. Esse é Belchior, afinal, "no presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais", já diria em "Velha roupa colorida", aqui uma balada folk, bem diferente da versão posterior de Elis Regina (praticamente um rockbilly). Outra que fez Elis se render ao talento do cearense também está nesse disco. "Como nossos pais" é daquelas músicas que chegam arrebentando a porta da frente com um chute violento e dão um tapa na cara de toda a nossa juventude que apesar de tudo "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". E o disco segue. Ainda temos "Sujeito de Sorte". A letra curta e direta tem um tom leve e positivo, já que Deus é brasileiro e anda do meu lado. E vem "Como o diabo gosta" fechando o lado A sem nunca fazer nada que o mestre mandar.

(pausa pra virar o disco)...

"Eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais". São os versos iniciais da bela faixa-título. Viver a realidade encarando o dia-a-dia como se fosse tudo uma alucinação, pois Belchior está mais interessado em "amar e mudar as coisas"."Não leve flores" dá um up no ritmo do disco. Uma levada super pra cima, impossível não gostar. "A palo seco" também está presente aqui, o que provavelmente causou minha confusão com o primeiro disco do Belch. A música deu uma revitalizada na carreira do bigodudo depois que o Los Hermanos incluiu ela em seu repertório, tendo ocorrido uma inusitada apresentação no programa Altas Horas da banda com o compositor cearense cantando essa música. Num tom mais triste e melancólico do que na versão posterior dos hermanos, Belchior embala a canção cantando com sua voz característica os belos versos escritos por ele, que parecem se referir ao seu recente (e curto) sumiço "se você vier me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava...". O disco segue com "Fotografia 3x4" e finaliza este belo registro com "Antes do fim".
É triste, mas artistas como Belchior serem esquecidos vem se tornando uma coisa comum. E nem tanto por culpa do público. Os próprios artistas parecem não conseguir acompanhar a evolução dos tempos ou esquecem-se de onde tiravam a inspiração para criar belas canções, restando de relevante apenas os registros de sua época áurea, o que mesmo assim, deveria ser suficiente para mantê-los no seu lugar de direito, junto de seu público.

Belchior - Alucinação (1976)
Tracklist:
01 Apenas um rapaz latino americano
02 Velha roupa colorida
03 Como nossos pais
04 Sujeito de sorte
05 Como o diabo gosta
06 Alucinação
07 Não leve flores
08 A palo seco
09 Fotografia 3x4
10 Antes do fim

Link: Belchior - Alucinação (1976)

2 comentários:

Ana Paula Farias disse...

Quase choro com o post ehueheu
Mas falando sério o cara se garante mesmo, o triste é saber que muita gente vai lembrar mais dele como o "cara que o Fantástico achou!" do que como um grande compositor.

Poma Pomarola disse...

Mais importante do que gostar do post é ouvir o disco ;)